Alucinado

Pintura: Sr. do Vale
0,50m x 0,49m
Desfigura a tua cara
Mas mantêm o sentimento
Corre como o fogo levado pelo vento
Então se desfaz o tormento
Que vê
escorrega o pensamento
nas veias do contentamento
O poder da criação
Não carrega a ambição
Natural de toda vida
Fruto da alucinação
A morte
Quando a arte impressiona
Trás no tempo
O nascimento
Da mesma cor num outro momento
A despedida.
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Esse sou eu
é assim que me vejo
no espelho:
desfigurado
incendiado
o olho de lobo
fixo na presa
e você sem pressa
se estende nua
e lânguida no reflexo
do meu desejo.
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DEsfiguro-me em labaredas ardentes
que pulsam-me os dias quentes
de desejos febris.
Ah, essa descontrução de mim
que em ti crio chamas
de um nós cheio de ardis.
Junte-me os traços
criem-se laços
De um novo passo
-Alucinado-
que está por vir.
Fernanda Fernandes Fontes
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Alucinado
Ali
Se nado
Lúcido
Ou nada
Fado
Sem fada
Lido
Errado
Prosa acabada...
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Um pouco de mim perde a razão
se consome, arde em chamas
desvairado, indecente
se entrega em sacrifício
Inebriado se perde no caminho
Viajar sem destino
pó, fumaça, delírio
.
Um pouco de mim se encanta
rompe as amarras
camisa de força
espelho da alma
nos olhos da moça
que não sabe nada
deste alucinado mundo
.
Agora é tarde
agora já era
um pouco de mim se apressa
Digam-me bocas caladas,
já que a loucura não cessa,
quem trás a verdade?
Um pouco de mim não entende
insiste, alucinado, viagem,
seguir em frente.
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Mosaico

Pintura: Sr. do Vale
1,50m x 0,90m


São ventres
Em nós existentes
São mentes
Com comunhão
a concepção de toda emoção
São vidas
Que crio e (re)crio
Sem limite da imaginação
Sentimentos sem razão
Cacos da dimensão
Uma nova geração.
Partículas da razão.
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Verti de seus dedos nuvens,
gotas de partículas
sem sentido algum à realidade humana,
trata-se de Deuses, Anjos e demônios.
Mas vê ali um instrumento de dejetos
simbolizando a irreverência
e destruição das formas quadradas,
és um convite para a esperança
de que a salvação esta na arte.
Este não tem palavras, não tem palavras.
Sinto-me agraciado
Noslen ed azuos
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Miriadesformas
Tudo desfeito
Feito leito de rio frio
Nasce, cresce, padece
Morre, escorre e transforma
Lava quente, fervente
Nascente borbulhante
Constante berçário
Relicário de novas formas
Mitoses coloridas
Gnoses instintivas
Apoteose coletiva
Cria a vida
Voa e contorna
Plataforma
Praia e barranco
Arranco parido
Gemido, sussurrado, gritado
Caotizado às miríades
Miriadesformas
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Se uma boa pintura
não te exalta,
não te faz levitar e,
não te felicita,

finca os teus pés ao chão...
Não é a pintura
e sim a tua alma que padece.
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Mosaico de cores
E pra não dizer que não falei de flores
Quase sinto a textura
Das marcas na tela
A mais impactante aquarela
E há quem jura
Que o que se espia por essa fissura
É também a mais bela...
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Pintura de carnaval
Estandartes e alegorias
Nesta noite de carnaval
No êxtase da alegria
Levados pela empolgação
Cores e brilhos saem pra ver
A pintura como representação
Até um acidente a derreter!
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A tela lisérgica
disfarça a chuva
enche de pixels
a gota d'água.
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Pelas colinas correm cascatas
Tal me dizem das suas cores
Um Jardim de estrelas ardentes
Onde na encosta a luz da penumbra
Perfuma as nuvens indolentes
E a Primavera de flores as deslumbra.
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Contemplação

Pintura: Sr. do Vale
2,00m x 1,20m


Contemplo o vale terrestre
que suaviza o olhar
quando no raiar do sol parte de mim consegue iluminar.
Contemplo o vale da mente
que é distinto em cores e sentidos
.
Ou pairo na linha tênue
que divide esses dois vales.
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Há sob o céu cor de limão
insinuâncias de vertigem e cor.
Sabemos afoitos os cúmulos
tintos de vermelho.
Sabemos tempestuos
asas formas onduladas
e as altas vagas das paixões.
Ah, estamos nós tão propícios
sob o céu cor de limão
que nem podemos fingir
que usamos vestais.
Sob essas cores não cabem disfarces.
Melhor assegurar as sensações.
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Nesse vale
Sob um céu de fogo
Eu rogo
Que me embale
Enquanto afogo
Cada parte
Que não se cale
Nessa arte
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Paisagem Mental


Pintura: Sr. do Vale
1,47m x 0,92m



Aflito
o silêncio
fim de noite
medita sob o céu
cinzento
a chuva
o que era
a pouco sol
que atrás
da cortina vê
e se cala
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Quem tinge dessa cor os reflexos no mar,
se não há sangue no céu?
Quem?
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Feliz coincidência!
O mesmo sentimento
A mesma distância
Quando ampliada a imagem
Cega-me o reflexo
E no tamanho apresentado leva-me o olhar
Uma corrente de semelhante inspiração.
A saudade que não pode ser vista com a mesma distância.
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Está azul
e é noturno
e está molhado
e nada é tão pouco calmo
veja bem como no íntimo
sangra.
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Este me parece o esperar,
uma calma tensão no ar
como uma chuva por começar,
momento que há de vir,
espero diante do esperar...
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Gosto
Desgosto
Remendos esporádicos
Traçam minha visão
E é mar
.
Redemoinhos mentais
Cores contrastantes
Calor e frio
Amor e ódio
Minha mente vaga
Vaga
Vaga
Mente.
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Ah como conheço este profundo caminho…
Esta paisagem íntima e mental…
Rasgada insinuante e viva por dentro
pulsante no sangue que se espalha e dilui…
Território interno… espiritual…incorpóreo
que um lance de vista não abrange
lugar onde se gera cor e alienação…
- noite após noite, dia após dia
–Mar ondulante
onde se balouça o berço da cosmovisão e da filantropia…